
Nem o caso Edmundo, que veio comprovar
inequivocamente o quanto o Judiciário brasileiro concorre para a
impunidade, abala o convencimento popular de que os culpados são punidos
no Brasil.
O Latinobarómetro, em mais uma das
suas pesquisas de opinião pública, perguntou aos habitantes dos países
latino-americanos, entre os anos de 1995 a 2009, se concordavam com a
assertiva de que o sistema judicial de seu país pune os culpados: 46,3%
dos brasileiros disseram que sim.
Ou seja: só um pouco mais da metade
do povo brasileiro tem opinião (consciência) no sentido de que o
Judiciário brasileiro não pune (todos) os culpados. Que aqui a
impunidade é a regra, não a exceção.
A média entre os países da América Latina foi de apenas 35,7% de concordância com a afirmativa. Ou seja, 64,3% das pessoas acreditam que seus países não punem os culpados. A sensação de impunidade prepondera em toda América Latina.
Os países que menos concordaram que
seu sistema judicial pune os culpados foram a Argentina, com 79,7% de
discordância; o Paraguai, com 78,7% e o Equador, com 70,3%.
O Brasil foi o segundo país que mais
acredita na punição dos culpados, ficando atrás apenas do Uruguai
(49%). A Venezuela também se mostrou otimista, já que 46,2% de seus
entrevistados concordaram com a assertiva.
De acordo com estes índices,
demonstra-se que quase metade da população brasileira acredita que o
Judiciário pune (todos) os culpados no Brasil. Isso evidencia na prática
que o brasileiro não tem muita noção da impunidade quase absoluta que
reina no nosso país. A ignorância dos números da impunidade (das cifras
obscuras) seguramente é a causa da crença (aliás, crendice, que é a crença popular sem fundamento) na Justiça criminal brasileira.
Os processos criminais no Brasil
levam anos para serem julgados, muitos deles prescrevem antes mesmo de
irem a julgamento, ou seja, somos vistos como o país da impunidade. Um
resultado destes se mostra bastante contraditório e comprova o quanto
nos tornamos cada vez mais conformistas com nossas graves deficiências.
E as oportunidades não vão aumentar,
muito menos se tornarem mais igualitárias, enquanto fecharmos os olhos e
encararmos com tranquilidade, otimismo e conformismo nossa triste
realidade judiciária!
Por Mariana Cury Bunduky