Quando se confrontam duas profissões, automaticamente surge a indagação: qual delas é a mais importante? É comum ouvir dizer que “o médico é mais importante do que o engenheiro; o veterinário é mais importante do que o Agrônomo; o Advogado é mais importante do que o Juiz ou do que o Promotor, o Delegado, o Defensor Público” e vice versa.
Na cabeça da maioria, no entanto, dúvida não existe, pois já está preconcebida a idéia de que determinada profissão ou função é mais relevante do que a outra. O médico é mais importante do que o carpinteiro; o juiz é mais importante do que o delegado; o promotor é mais importante do que o advogado; o engenheiro é mais importante do que o veterinário e assim por diante. Isso é cultural. Na realidade, o eletricista é tão importante quanto o médico, o engenheiro, o professor, o promotor, o delegado de polícia, o juiz etc. Por isso a importância dos ditados populares “cada macaco no seu galho”, “cada um no seu quadrado” ou “cada coisa no seu lugar”. Vale dizer: todos são importantes, depende apenas do contexto em que estão inseridos.
Com efeito, a relevância da função ou profissão está intimamente vinculada ao contexto. Se se tratar de uma questão relacionada com a saúde humana, a profissão ou função mais importante é a do médico; se se tratar de um projeto para construção de um prédio, a profissão mais importante será a do engenheiro e do arquiteto; se tratar de um problema mecânico no automóvel, a profissão mais importante será a do mecânico; se se tratar de um problema elétrico, será a do eletricista; se se tratar de uma pesquisa, a do cientista; se se tratar de um conserto no sapato, a do sapateiro e assim por diante. Isso significa que o carteiro é tão importante quanto o médico, o juiz, o promotor.
Quando surge uma indagação dessa natureza, a melhor saída é respondê-la dizendo que depende. Se a necessidade se referir à construção de um armário de madeira, a resposta será o carpinteiro. A relatividade das coisas nunca se teve não presente como neste contexto. Todas são importantes, depende do sentido empregado. Hoje, por exemplo, quando estava escrevendo estas reflexões, lembrei-me de que precisava falar com um consultor sobre um projeto de financiamento. Isso significa que, neste momento, em relação ao meu interesse, a profissão mais importante é a do consultor.
A verdade é que as nossas necessidades são as mais variadas possíveis. Ou seja, nosso mundo é complexo e para satisfazer ou atender nossas necessidades devemos recorrer às contribuições de profissionais de diversos perfis, o que significa que as profissões se complementam.
O importante é ter em mente que a importância da profissão ou função está intimamente vinculada à responsabilidade de quem a executa e às nossas necessidades. Não importa a qualificação deste ou daquele profissional, se por trás dele não estiver presente a responsabilidade, o comprometimento para com o resultado final.
Nessa perspectiva, com efeito, a autoridade de certas profissões ou funções não se impõe, mas sim é conquistada com a coerência e com a competência de como são executadas.
A propósito, na seara jurídica, onde milito, o juiz, assim como o advogado, o delegado e o promotor, têm as suas atribuições/competências bem definidas. Na hipótese da prática de eventual crime, cabe à polícia e, eventualmente, ao promotor, investigar e apurar o contexto em que o delito ocorreu; o promotor, por seu turno, exerce as suas funções exclusivas (por exemplo, é quem processa eventuais criminosos); o advogado é quem pleiteia eventuais direitos do seu cliente, perante o juiz ou perante a autoridade administrativa, nas questões administrativas; o juiz é quem declara o direito pleiteado pelo promotor ou pelo advogado. Como se observa, cada um desses profissionais tem a sua importância na sua respectiva esfera de atuação. Nenhum deles é mais importante do que o outro, eis que atuam em perspectivas diferentes.
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